Entrevista com Luiz Antônio França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias

Depois de um prolongado tempo de crise, como é que o senhor avalia o mercado imobiliário?
É natural que a gente comemore. Nem seria diferente. Há três pilares que influenciam os dados positivos no setor imobiliário. Primeiro, a taxa de juros abaixo de dois dígitos. Segundo, o marco regulatório que se desdobrou na lei do distrato (há maiores implicações para quem não assumir o contrato e desistir da compra). Terceiro, a redução gradual no pior desemprego histórico do país. Sim, o clima de confiança invadiu nosso ambiente.

O senhor aposta na reação definitiva?
Aposta não é a palavra mais adequada. Eu diria que acredito no futuro do ramo imobiliário e do país como um todo. Tenho a certeza de que tudo começou a mudar para muito melhor. As medidas já adotadas estão aí para confirmar meu otimismo.

Agora vai ou é preciso aguardar um pouco mais para que as projeções venham a se consolidar?
Não tenho nenhuma dúvida quanto aos melhores desdobramentos possíveis. Não há como não confiar. É só ver o quadro geral que aponta os novos rumos do Brasil. Definiria o trabalho inicial do governo como excelente. A melhoria fica bem clara na gestão das empresas. A reforma tributária (encaminhada ao Congresso) é fundamental. É o que falta para selar a revirada. É algo essencial para o fortalecimento da economia nacional.

Tudo também seria viabilizado pelo controle das contas públicas?
O aperto nos gastos públicos influencia demais. É natural que assim seja. Hoje, vejo ministros e técnicos altamente capacitados em funções estratégicas do Planalto. São pessoas que ditam a nossa esperança. O trabalho é sério. Lá, as cabeças pensam corretamente. Há mais previsibilidade nos atos do governo e na cartilha utilizada. Isso nos permite enxergar lá na frente. A empresa chamada Brasil já é bem administrada. O novo cenário serve de muito estímulo à crescente competitividade.

O que o senhor diria do Minha casa, Minha vida?
O programa das faixas 1,5 e 2 apontou ótimos resultados nos instantes mais difíceis da crise imobiliária. Só como exemplo, lembro que o governo põe R$ 900 milhões anuais no sistema e o retorno em tributos é de R$ 8,9 bilhões por ano. Há vantagens nos investimentos, que refletem a enorme demanda na habitação popular do país.

O potencial visualizado corresponde às necessidades vinculadas ao meio imobiliário?
Não há como negar as potencialidades neste mercado que apresenta um déficit habitacional de 7,8 milhões de moradias (dados referentes a 2017 e divulgados em 2018). É o que indica um levantamento da Abrainc/ FGV (Fundação Getulio Vargas). Há espaços para 9 milhões de unidades em uma década. As mudanças no Banco Central vão permitir que a poupança libere R$ 80 bilhões de crédito ao setor imobiliário em alguns anos. Desde 2009, o modelo do MCMV gera, na média, 2,3 milhões de empregos diretos e indiretos. O ideal é que haja novos investimentos de uns R$ 300 milhões/ano ou três vezes acima dos níveis de hoje.

Publicado em: Correio Braziliense