Segundo entidades, é importante que cenário político seja resolvido rapidamente

Os dirigentes de importantes entidades empresariais assistem apreensivos às turbulências políticas em que o país mergulhou depois das delações do empresário Joesley Batista, da JBS, e não arriscam apontar um desfecho para a crise atual. Mas concordam ao afirmar que, independentemente da solução do impasse político atual, é fundamental que a equipe comandada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o programa econômico que vem sendo implementado sejam mantidos.

— Uma possível queda do presidente, do governo, traz uma dúvida grande com relação à execução das reformas. O movimento dos mercados financeiro e de capitais inicialmente foi de retirada da precificação das reformas que os investidores de certa forma davam como certas. Houve depois certa reversão, mas é difícil falar como as coisas vão ficar — diz Antonio Carlos Pipponzi, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV). — Mas existe uma confiança (no meio empresarial) muito grande na manutenção da política econômica. Isso é muito importante para o processo de travessia.

Venilton Tedini, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Base e Infraestrutura (Abdib), observa que o estouro das delações da JBS trouxe uma instabilidade política, que já vinha sendo deixada de lado e permitindo ao governo cuidar de questões mais estruturais, como as reformas. O resultado, diz, foi uma “inflexão” no processo de avanço.

— Mas a expectativa é de que o núcleo da equipe econômica seja mantido (na hipótese de uma transição de governo), para que a agenda de ajustes e reformas prossiga. Isso é importante principalmente para nós do setor de infraestrutura, que trabalhamos com projetos de médio e longo prazo — diz, destacando que é essencial que a questão política seja resolvida rapidamente.

Apesar das incertezas crescentes dos últimos dias, tanto o setor de varejo como o de infraestrutura mantêm inalterados seus planos de investimento. No varejo, o grupo DPSP, dono das redes Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo, anunciou ontem a manutenção de seu plano de expansão, que prevê 130 novas lojas, com investimento de mais de R$ 100 milhões, até dezembro.

 

Juros Preocupam

Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), confirma que a maior preocupação do setor também é com o destino das reformas, que em sua visão “ficam prejudicadas”.

— Sei que a gravidade da crise é muito grande, mas sou um otimista e temos que aguardar até que o quadro esteja menos nebuloso — diz Barbato.

Mais que as reformas, a possibilidade de a redução dos juros agora ganhar um ritmo mais gradual é o que mais preocupa o setor de construção.

Se você não tem demanda, você não tem lançamento. E essa demanda depende da confiança do comprador, que fica menor quando tem uma crise — avalia Luiz Antonio França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).

Publicado em: http://oglobo.globo.com/economia/empresarios-defendem-continuidade-das-reformas-apesar-de-impasse-politico-21378737