Ainda são poucos os cursos de formação de conselheiros oferecidos no mercado, mas os mais conhecidos, como os ministrados pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), pela Fundação Dom Cabral (FDC) e pela Saint Paul Escola de Negócios, têm uma demanda crescente. Embora o interesse por uma cadeira em um conselho de administração esteja em alta, as vagas são poucas e os escolhidos, em grande maioria, são indicados e não passam por processos seletivos.

Há dois perfis predominantes entre quem procura esse tipo de programa: herdeiros de empresas familiares que querem implementar conselhos de administração em suas companhias e profissionais que pretendem trabalhar como conselheiros em algum momento da carreira. “Eventualmente há também, entre os alunos, consultores e pessoas que querem saber mais de governança porque estão no alto escalão das empresas”, completa Adriane de Almeida, superintendente de conhecimento do IBGC.

O programa de desenvolvimento de conselheiros de administração do IBGC tem 11 turmas anuais e forma cerca de 500 pessoas por ano. Quem conclui as aulas precisa fazer um exame de certificação para entrar no banco de currículos de conselheiros da organização.

Hoje, há cerca de 500 nomes no banco, mas poucos conseguem um emprego a partir dali. Marcos Jacobina, superintendente de conhecimento do IBGC, conta que o banco recebeu 80 consultas de empresas procurando conselheiros em 2016. Esse movimento gerou 10 entrevistas e 5 contratações. Em 2017 uma contratação já foi feita por meio do banco de currículos do IBGC. “O mercado de contratação de conselheiros ainda é muito fechado no Brasil, e cerca de 80% das vagas são preenchidas pelo networking dos executivos”, diz Jacobina.

Jorge Maluf, diretor-geral da Korn Ferry, consultoria que faz recrutamento de executivos e membros para conselhos, afirma que as certificações são importantes para o executivo se preparar e entender melhor o que significa governança, mas que o mercado não faz essa exigência. “É um ‘plus’, mas não é requisito”, diz. “O que pesa mais é mesmo o perfil, a experiência e a reputação do executivo.”

Há mais de 15 anos auxiliando as empresas a implementarem práticas de governança corporativa, Herbert Steinberg, presidente e fundador da Mesa Corporate Governance, corrobora a afirmação de Maluf, e garante que certificações como a do IBGC não são exigidas pelo mercado. “Eu diria que dos quatro ou cinco mil conselheiros que existem nas 600 companhias abertas do país pouquíssimos têm certificação”, afirma. A maioria consegue um assento no “board” em consequência da trajetória executiva.

Foi o que aconteceu com Luiz França. Atualmente, ele é conselheiro em quatro empresas e sócio-presidente da França Participações. Ele passou a integrar seu primeiro colegiado quando ainda era executivo do Itaú e ocupava o cargo de head da área de crédito imobiliário do banco.

“Venho de uma empresa com práticas sólidas de governança e fui presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) por duas gestões, o que me deu uma capacidade grande de entendimento dos diversos ‘stakeholders’, algo relevante para quem pretende atuar como conselheiro”, diz.

Alexandre Fialho, sócio da consultoria Filosofia Organizacional e membro de conselhos desde 2011, ingressou em seu primeiro colegiado quando era presidente da consultoria Korn Ferry para a América Latina. “Todos os processos de seleção de conselho que participei surgiram a partir de relacionamento profissional”, diz Fialho. “Entendo que o mais relevante para escolher um conselheiro seja mesmo a bagagem que o executivo traz. No meu caso particularmente, também contribuem minha formação em finanças e estratégia em escolas conceituadas e a experiência em consultoria.”

Herdeira da Integral Médica, uma empresa familiar de capital fechado de nutrição esportiva, Anna Emilia Bragança Buffara já tem no currículo uma série de cursos, inclusive um MBA Executivo na Universidade de Columbia. De qualquer forma, acabou de concluir o “Advanced Boardroom Program For Women” da Saint Paul Escola de Negócios.

Alguns anos atrás ela fez o programa de certificação do IBGC e naquela época estruturou o conselho da Integral Médica. “Para uma empresa familiar durar cem anos é preciso profissionalizar a gestão, e a governança é um caminho que requer investimento e conhecimento”, diz Anna. “Os cursos me ajudam com atualizações e com o networking, porque o recrutamento para conselhos é puro relacionamento.” Em maio deste ano, a Saint Paul vai abrir a segunda turma de seu curso de formação de conselheiras e em setembro haverá uma terceira. Dedicado apenas a mulheres, o curso é uma contribuição da escola para diminuir a diferença entre gêneros nos colegiados. “No médio prazo o objetivo é que o curso se torne misto, à medida que nossa contribuição para diminuir a diferença de gênero nos conselhos esteja finalizada, mas em 2018 a turma ainda deve ser formada somente por mulheres”, afirma José Claudio Securato, CEO da Saint Paul Escola de Negócios.

Na FDC, onde o curso de desenvolvimento de conselheiros existe desde 2008, há duas turmas por ano, totalizando 120 alunos. Recentemente, a escola notou uma procura maior por executivos na faixa dos 40 anos de idade. “Entendemos que é porque há um novo perfil de conselheiro, mais jovem, mas com conhecimento técnico forte, como na área de tecnologia”, afirma Adriane Rickli, diretora de projetos da escola. As próximas turmas do curso serão abertas em abril e setembro.

Publicado em: http://www.valor.com.br/carreira/4883612/programas-formam-nova-geracao-de-conselheiros