O Índice de Governança Corporativa Trade (IGCT) – que reúne 111 ações de companhias que buscam seguir as melhores práticas de governança corporativa – avançou 6,3% em fevereiro, a melhor performance mensal desde abril do ano passado.

Embora esse indicador de ações seja considerado pelo mercado financeiro e por investidores pessoas físicas como muito “subjetivo”, ninguém discute a importância do conceito de “governança corporativa” para a criação de valor nas companhias.

“É um item muito subjetivo para medir. Mas para quem acompanha índices, o IGC

[Índice de Governança Corporativa] mostrou uma forte recuperação em fevereiro, e ele está num patamar que indica movimento de alta nos próximos meses com chances de voltar ao seu topo histórico”, aponta o analista técnico da Escola de Investimentos Leandro & Stormer, Fabio Figueiredo.

Na avaliação do consultor independente, Luiz Antônio França, “não há dúvidas” de que – após a perda do grau de investimento pelo Brasil pelas três agências de classificação de risco (S&P, Moody’s e Fitch Ratings) – cada vez mais, os investidores estrangeiros vão buscar como referencial as companhias brasileiras que perseguem as melhores práticas de governança corporativa. Ou seja, que respeitam todos os acionistas e a sociedade.

“O investidor quer transparência e boa governança. Ele precisa de informações de qualidade e precisa acreditar nas informações para continuar a investir”, afirma o consultor, que já foi conselheiro de administração de diversas companhias brasileiras.

França lembrou que na década de 90 do século passado, o mercado doméstico era muito fechado e só a partir da implantação das primeiras práticas de governança corporativa a partir de 1995 é que foi possível começar a atrair investidores estrangeiros. “Naquela época, os estrangeiros pediam minimamente a abertura dos números [de balanço] e os empresários locais relutavam em abrir as informações”.

Nesses últimos 20 anos, a importância da governança corporativa aumentou, e hoje, diante de casos recentes de “falta de governança” – vide companhias que estão sendo investigadas pelas Operações Zelotes e Lava-Jato da Polícia Federal – os investidores locais e estrangeiros estão mais exigentes com a transparência.

Entre os diferentes casos, na última semana, por exemplo, as ações da Gerdau e da Gerdau Metalúrgica figuraram entre as maiores baixas da Bolsa de Valores por aparecerem citadas na Operação Zelotes, que investiga a utilização de consultorias tributárias no abatimento irregular de impostos junto ao Carf.

Nos últimos dois anos – outra operação da Polícia Federal – a Lava Jato também afetou o valor dos papéis da Petrobras, da Eletrobras, e do BTG Pactual. E mesmo fora do campo dos escândalos financeiros ou de corrupção, a Vale teve sua imagem (e ação) atingida pelo acidente ambiental da Samarco, em Mariana, Minas Gerais, caso que envolve a gestão de riscos socioambientais.

“Os casos estão aí [na imprensa]. Felizmente estão se tomando as medidas necessárias para resolver esses problemas. É importante a diligência e implantar bons sistemas de governança corporativa”, completou Luiz Antônio França.

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Orientações do IBGC

Sem citar nomes específicos de companhias abertas, o conselheiro de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Roberto Waak, diz que a orientação atual é que os conselheiros e executivos estejam atentos às “externalidades”, ou seja, além das preocupações imediatas com o capital financeiro e da produção de bens e serviços.

“Um descuido das outras áreas pode afetar o valor de mercado das organizações e colocar as companhias sobre um grau de risco muito grande”, alertou o conselheiro.

Na visão do IBGC, os administradores de empresas devem buscar a criação de valor no longo prazo. A empresa deve perseguir “o lucro ótimo” e não, o “lucro máximo”.

Mas para se atingir esse senso de sustentabilidade e perenidade do negócio, a recomendação do IBGC é que as empresas estejam preparadas para gerir outros cinco capitais: o humano, o social, o capital social, o ambiental, e, também, o reputacional.

Waak apontou a importância das empresas identificarem todos os riscos, além dos riscos econômicos e de mercado. “Alguns riscos são mais visíveis, outros são menos visíveis”, diz.

De posse de um mapa de riscos, conselheiros e administradores podem se qualificar para entender os riscos e o que fazer para mitigar (diminuir, minimizar ou eliminar) possíveis danos. “Muitas vezes, só cumprir a lei, não resolve. Precisa ir além e proteger a empresa e todos que estão relacionados à companhia em questões humanas, sociais e ambientais”, afirmou Waak.

O conselheiro ressaltou que a questão da corrupção também deve ser tratada com seriedade nas companhias. “Entre os riscos às organizações também produzem grande perda de valor [de mercado].”

A recomendação do IBGC é que todos os funcionários e colaboradores (parceiros, fornecedores, terceiros) da companhia devem cumprir o código de conduta. “Treinar periodicamente todos os públicos”, sugere o instituto. Na mesma linha, o consultor Luiz Antônio França, diz que a revisitação do código de ética e de conduta deve ser rotineira.

Publicado em: http://www.dci.com.br/financas/indice-de-governanca-corporativa-na-bolsa-de-valores-avanca-6,3-no-mes–id530653.html